Os 12 signos representados por Leonardo da Vinci em “A Última Ceia”
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Em uma das aulas de seu curso magistral, Claudia Lisboa, uma das principais astrólogas do cenário brasileiro, partilhou um capítulo importante de sua trajetória. No relato, ela nos apresenta as memórias de Emma Costet de Mascheville, astróloga alemã radicada no Brasil e mestra da brasileira na Escola Júpiter de Astrologia. Falecida em 1981, Dona Emmy — maga aquariana — deixou na aprendiz a lição decodificada do que “A Santa Ceia”, de Leonardo da Vinci, elucidando arquétipos, luzes e sombras. Assim, comecemos com a ideia que a pintura de Da Vinci decorou muitas salas de jantar e embalou muitas reuniões de família, sem que ninguém se imaginasse representado pela pintura.
A obra conta com treze personagens (os 12 signos + Jesus) representados da direita para a esquerda (de Áries para Peixes) e, ao fundo, o céu como espelho que se reflete tudo ao contrário. Todas as linhas do quadro convergem para Jesus, uma vez que ele representa o sol e, por esse motivo, tem sua luz se irradiando pelos pontos de fuga da pintura. Uma das mãos de Cristo tem a palma para cima e a outra está voltada para baixo, representando luz e sombra e, ainda, as polaridades positiva e negativa dos signos em eixos. O canto direito do quadro é mais claro, representando a energia yin (no taoísmo, yin simboliza a escuridão) e o lado esquerdo e mais escuro reflete o yang (a claridade). Lembre-se: estamos falando de polaridades e elas são permeadas por luzes e sombras, elucidação que contraria muito do que pensamos sobre astrologia até aqui.
A mesa é sustentada por quatro cavaletes, isto é, os quatro elemento zodiacais (Fogo, Terra, Ar e Água). Os apóstolos — agrupados de três em três, assim como os signos em cada elemento — estão mais distantes fisicamente no lado direito (yang = luz) da pintura e mais unidos do lado esquerdo (yin = sombra). Jesus, ao centro da obra, é a força da vida. A representação arquetípica dos apóstolos é organizada em:
- Áries = Simão;
- Touro = Judas Tadeu
- Gêmeos = Mateus;
- Câncer = Filipe;
- Leão = Tiago Menor;
- Virgem = Tomé;
- Libra = João;
- Escorpião = Judas Iscariotes;
- Sagitário = Pedro;
- Capricórnio = André;
- Aquário = Tiago Maior;
- Peixes = Bartolomeu.
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Primeiro eixo: Áries (Simão) x Libra (João)
Simão é o musculoso sentado no início da mesa, assim como Áries inaugura o zodíaco. Na antiguidade, Simão era um lutador pela libertação do judeus, assim como — entre os signos — Áries é o impulsivo senhor da guerra, da conquista e da iniciativa. João, por sua vez, é o primeiro ao lado esquerdo de Cristo, alusão ao fato do apóstolo ter permanecido ao junto a Jesus até o fim com imensa devoção. Enquanto Áries é movido por guerra/concretização e ego (ariano = eu sou), Libra tem o olhar voltado ao outro (libriano = tu és), evocando a diplomacia dos gestos para harmonizar sua dualidade com Áries. O comandante de Áries e o mediador de Libra retratados por Da Vinci.
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Segundo eixo: Touro (Judas Tadeu) x Escorpião (Judas Iscariotes)
Judas Tadeu tem o semblante mais velho, processando ideias de forma acolhedora. Essa parcimônia taurina (pautada na lenta construção da confiança, por exemplo) é o oposto de Iscariotes, descrito por Dona Emmy como a peça mais importante do cristianismo, uma vez que — sem ele — a morte de Jesus não teria se tornado um marco para a humanidade. Iscariotes era um zelote, isto é, defensor da libertação do povo judeu que acreditava cegamente em Cristo, no entanto, não tolerou que o filho de Deus defendesse a libertação da alma e não da matéria. Mais ainda: Iscariotes era o apóstolo-tesoureiro e, na pintura, derruba o saleiro da mesa em um sinal da finitude das coisas (a queda, o não poder voltar atrás, o não chorar pelo sal derramado e o salgar do caminho para que nada mais nasça nele). Em sua provocação final para Jesus libertar o povo, Iscariotes se enforca e eis o que o eixo Touro x Escorpião nos ensina: tudo acaba (contrariando o apego taurino) para que tudo transmute (desmaterialização e renascimento, missões de Escorpião). Em uma frase valiosíssima mencionada por Claudia Lisboa, agradeça ao escorpião que te corta e fere, mas salva a vida. A materialidade de Touro e a desmaterialização de Escorpião traduzidas por Da Vinci.
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Terceiro eixo: Gêmeos (Mateus) e Sagitário (Pedro)
Enquanto Mateus olha para um lado e gesticula para outro, o apóstolo personifica a essência multitarefa do geminiano, sua capacidade ímpar de ser interface entre os dois mundos (material e espiritual), a existência de dois lados para toda história, dualidade e as polaridades. Pedro, em contrapartida, tem uma faca na mão e os dedos apontados diretamente para Jesus, ou seja, a evolução espiritual diante da bravura necessária para o recebimento de seu dharma. O jogo de cena entre Gêmeos e Sagitário diz respeito a transformar nosso interior a partir da essência (e às vezes parece oculta). A intelectualidade comunicativa de Gêmeos e a obstinação concretizadora de Sagitário observadas por Da Vinci.
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Quarto eixo: Câncer (Filipe) x Capricórnio (André)
Filipe cozinhava para os apóstolos e, mais ainda, tinha a missão de cuidar e alimentar Jesus. Nutrir com dedicação e amabilidade (por isso foi retratado com as bochechas mais rosadas). André, por sua vez, era o administrador e é retratado como alguém mais ossudo. Filipe precisa aprender a falar não para André e André precisa aprender a flexibilizar barreiras por ele impostas. O afeto de Câncer e o pragmatismo de Capricórnio condensados por Da Vinci.
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Quinto eixo: Leão (Tiago Menor) x Aquário (Tiago Maior)
Tiago Menor surge com juba dourada e braços abertos, chamando os olhares da mesa para si. Tem domínio sobre suas próprias vontades a partir do poder magnético (e autoritário) de Leão. Em outro ensejo, Tiago Maior (o irmão mais velho, no caso) tem as mãos apoiadas em André e Pedro, demonstrando que sua força natural vem do coletivo e tamanha grandeza ofusca o ego leonino. A necessidade de protagonismo de Leão e a busca de Aquário por palco para que todos atuem proporcionalmente na obra-prima de Da Vinci.
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Sexto eixo: Virgem (Tomé) x Peixes (Bartolomeu)
Tomé tem o dedo em riste, dizendo a Jesus que não é tudo em que podemos crer e, mais ainda, trazendo a capacidade analítica à mesa para separar o joio do trigo. Bartolomeu, no entanto, é o único com os pés na luz mesmo que sob o à sombra da toalha e ouve a todos igualmente por acreditar que o conjunto de vozes representa o mesmo ideal. A realidade de Virgem e a intuição de Peixes personificadas por Da Vinci.
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É necessário ressaltar que o conteúdo desta postagem vem das anotações da Astrologia Singular durante a aula de Claudia Lisboa (pautada nos ensinamentos deixados por Emma Costet de Mascheville). Como o quadro de Da Vinci é público e tamanho conteúdo não poderia ser mantido secreto, partilhar tal conhecimento se fez urgente e honroso. Outro adendo é que até existem outros autores, astrólogos e videntes mencionando o zodíaco presente em “A Última Ceia”, no entanto, somente a visão de uma aquariana voltada ao todo (Dona Emmy, no caso) coloca à mesa, ao lado de Claudia, o banquete de sabedoria que de fato alimenta (e desperta) o nosso ser. Amém, axé. Assim é.
(Texto originalmente publicado no site astrologiasingular.com.br em agosto/2020)